Quem está por trás do golpe de Estado no Peru?

Uma série de gestos e vínculos estreitos com os EUA e a própria CIA disparam os alarmes de golpe em um Peru mobilizado após as eleições. Por José Carlos Llerena Robles e Vijay Prashad | Globetrotter – Tradução de Rebeca Ávila para a Revista Opera
e acordo com todas as estimativas, Pedro Castillo venceu o segundo turno das eleições presidenciais, mas sua adversária se nega a reconhecê-lo, e muitos temem um golpe, já que as tensões poderiam aumentar com o apoio da direita leal do Peru e do recém-nomeado embaixador dos Estados Unidos.
Pedro Castillo, do partido Perú Libre, já começou a receber felicitações de todo o mundo. Não há dúvida de que ele ganhou as eleições presidenciais do dia 6 de junho. A Autoridade Eleitoral peruana (ONPE) anunciou os resultados finais: Castillo teve 50,127% dos votos (8,84 milhões de votos), enquanto Keiko Fujimori, sua oponente no segundo turno pelo partido Fuerza Popular, teve 49,893% (8,78 milhões de votos). Isto com 100% dos votos computados. Nitidamente, Fujimori perdeu as eleições.
No entanto, Fujimori se negou a reconhecer a derrota. Inclusive contratou os melhores juristas do Peru para contestar os resultados eleitorais. Poucas horas depois da divulgação das contagens eleitorais, a equipe de Fujimori apresentou 134 impugnações dentro do prazo previsto; outras 811 estão em andamento.
Vínculos e lawfare
Qualquer um que conheça a fraternidade jurídica peruana perceberá que alguns dos nomes mais importantes estão na lista de Fujimori: Echecopar, Ghersi, Miranda & Amado, Payet, Rey, Cauvi, Pérez, Rodrigo, Elías & Medrano, Rubio Leguía Normand, Rebaza, Alcázar & De las Casas. Só em Lima, a equipe tinha mais de trinta advogados trabalhando.
A equipe fujimorista reuniu esses advogados antes da votação, prevendo a possibilidade de uma vitória de Castillo e a necessidade de amarrá-lo nos tribunais. O exército de advogados de colarinho branco pôs em marcha uma estratégia de lawfare racista; todo o seu jogo tem consistido em invalidar os votos que constituem o núcleo da base de apoio de Castillo, ou seja, as comunidades indígenas do Peru.
Os Estados Unidos nomearam uma nova embaixadora no país. Seu nome é Lisa Kenna, ex-assessora do Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, veterana de nove anos na Agência Central de Inteligência (CIA) e funcionária da Secretaria de Estado estadunidense no Iraque. Pouco antes das eleições, a embaixadora Kenna publicou um vídeo em que falava dos estreitos laços entre os Estados Unidos e o Peru e da necessidade de uma transição pacífica de um presidente a outro. A “transição presidencial é um exemplo para toda a região”, declarou, como se antecipasse um sério desafio. Se alguém sabe de ingerências no processo eleitoral na América Latina, são os Estados Unidos.
Mais colaboradores próximos aos EUA
Também há membros-chave dentro da equipe de Keiko Fujimori, como Fernando Rospigliosi. Ex-ministro do Interior do presidente Alejandro Toledo, Rospigliosi se uniu à equipe de Fujimori precisamente para este tipo de disputa (durante anos, havia sido muito crítico com os crimes cometidos por Alberto Fujimori, que agora cumpre pena de prisão). A colaboração com a embaixada dos Estados Unidos está no currículo de Rospigliosi.
Em 2005, o ex-militar de esquerda, Ollanta Humala, participou da corrida presidencial. Todos os indícios indicavam que Humala, que havia tentado um golpe de estado contra o pai de Keiko Fujimori em 2000, tinha um apoio massivo. Alguns inclusive pensaram que Humala seguiria tanto Hugo Chávez como Evo Morales, levando o Peru em direção à esquerda. Nessa época, Rospigliosi foi à embaixada dos Estados Unidos para buscar apoio e evitar a vitória de Humala em 2006.
Em 18 de novembro de 2005, Rospigliosi e o ex-diretor de Defesa Nacional, Rubén Vargas, foram à embaixada para almoçar. Mostraram sua “preocupação pelas perspectivas de que o ultranacionalista Ollanta Humala se estabeleça como uma força política a ser considerada”. Tanto Rospigliosi como Vargas trabalhavam para uma ONG chamada Capital Humano e Social (CHS), que havia sido contratada pela Seção de Aplicação da Lei e Assuntos de Narcóticos (NAS) do governo estadunidense. Tanto Rospigliosi como Vargas pediram à embaixada dos EUA que instasse sua contratada de comunicações, a empresa Nexum, a “monitorar a cobertura de Humala e promover notícias e comentários anti-Humala nas regiões cocaleiras”. Queriam que a embaixada estadunidense utilizasse seus consideráveis recursos para miná-lo. Tratam-se de truques sujos à moda antiga.
Os Estados Unidos estavam preocupados por Humala, por suas declarações contra a presença militar dos Estados Unidos no Peru e seus vínculos com Hugo Chávez. O que Rospigliosi e Vargas disseram à embaixada estadunidense lhes agradou. Humala perdeu as eleições em 2006. Ganharia em 2011, vencendo Keiko Fujimori; mas em 2011 já havia se estabelecido como um candidato dos neoliberais, alguém que os Estados Unidos viam como inofensivo e útil. Em 19 de maio de 2011, Humala assinou um texto que o vinculava à agenda neoliberal (“Compromisso em Defesa da Democracia”). Na reunião, ganhou a benção do padrinho da direita peruana, o romancista Mario Vargas Llosa.
Vargas Llosa é uma figura-chave aqui, utilizando o prestígio do seu Prêmio Nobel de Literatura de 2010 como respaldo. Quando se soube que Pedro Castillo ganhara o Peru rural, Vargas Llosa menosprezou os eleitores das zonas rurais; alertou que o Peru viraria a Venezuela e que seria uma catástrofe para o país. Submerso na bile do racismo, Vargas Llosa se juntou a outros intelectuais da extrema-direita para menosprezar a classe trabalhadora e o campesinato peruano, esperando que tais comentários dessem cobertura suficiente ao processo golpista em curso dentro da ONPE.
Em alerta
Tudo parece estar preparado: o embaixador dos EUA com credenciais da CIA, um homem de truques sujos com o costume de ir à embaixada em busca de ajuda e com um histórico de pedir aos EUA que difamem a esquerda, um idoso com alergia ao seu próprio povo, e uma candidata cujo pai foi respaldado pela oligarquia quando deu um autogolpe em 1992.
Pedro Castillo continua cuidando das ruas. As multidões se reúnem. Não querem que suas eleições sejam roubadas. Mas há medo no Peru. Forças mais sombrias se amontoam. O povo será capaz de derrotá-las?
A Estrela Vermelha Brilha sobre a China
Este mini-curso de Hugo Albuquerque será transmitido via plataforma Zoom nos dias 6, 13, 20 e 27 de junho e…
REVOLUÇÕES: OUTRO MUNDO É POSSÍVEL
Curso gravado sobre o contexto histórico e as teorias das principais experiências revolucionárias na América Latina, Rússia, África e Ásia.…
O sindicato tem futuro?
Neste curso Marcio Pochmann e convidados debatem temas como a formatação do modelo de organização e representação dos interesses da…
O Pensamento Mao Tsé-Tung
A ideia do curso consiste em localizar a singularidade do pensamento Mao Tsé-Tung na tradição marxista através de seus principais…
A guerra econômica no conflito ucraniano
Aula híbrida (presencial e online) A Operação Z, que marca a maior escalada do conflito russo-ucraniano nestes oito anos, já…
República de Segurança Nacional: Militares e política no Brasil
Curso debate o projeto de poder dos militares no Brasil Iniciativa faz parte da Coleção Emergências, parceria da Fundação Rosa…
O Partido Fardado e a Política no Brasil
Fundamentos teóricos, história e propostas para um combate 10 horas de curso gravado! Assista a hora que for mais conveniente!
A Era Putin na Rússia
Este curso foi gravado em abril de 2022 com aplicativo Zoom. Conteúdo gravado e material didático. 12h de aula online…
Como estudar textos revolucionários? Ferramentas intelectuais e digitais
O curso foi gravado em fevereiro de 2022 via aplicativo Zoom. 8h de aula online
Método dialético
Curso online Gravado entre novembro e dezembro de 2021 através de aula ao vivo via Zoom Emissão de certificado de…
História da China
O objetivo do curso é capacitar os estudantes a procurar e selecionar materiais adequados para o estudo da História da…
Retornando a Maquiavel
Tomando como lição o que o próprio florentino aconselhou, “Retornando a Maquiavel” tem a proposta de readmitir o pensamento estratégico…
Novas Teorias Populistas
O objetivo do curso é apresentar as abordagens teóricas contemporâneas do fenômeno populista e a sua relação com as democracias…
Fanon e a Revolução Argelina
+ Bônus: cupom de 10% de desconto na compra do livro “Fanon e a Revolução Argelina” de Walter Lippold editado…
A Mística Revolucionária Latino-americana
Utilizando o método de círculos de reflexão o investigador e militante João Gabriel Almeida nos conduzirá pelos fundamentos da mística…
Guerra, a política por outros meios
Nesse curso, apresentamos os fundamentos teóricos necessários para aqueles que desejam iniciar seus estudos sobre a guerra e a história…
A Guerra Contra o Paraguai
As causas do conflito e a invasão paraguaia do Brasil (1864-65)Coordenação científica: dra. Ana Setti Reckziegel — PPGH UPFProfessores: Mário…
Economia Pós pandemia
Curso Gratuito das Jornadas Freireanas – Flipei 2021 Este curso foi gravado via live nos dias 5/04, 12/04, 19/04 e…
Feminismo negro e culinária
Curso Gratuito das Jornadas Freireanas – Flipei 2021 Este curso foi gravado via live nos dias 7/04, 14/04, 22/04 e…
O pensamento transfeminista
Curso Gratuito das Jornadas Freireanas – Flipei 2021 Este curso foi gravado via live nos dias 8/04, 15/04, 22/04, 29/04 …
12