Quem é o dono da empresa chinesa Huawei?

Gabriel Veloso e Paulo Gala | Publicado em Paulo Gala Economia e Finanças
A medida que a Huawei tem sido submetida a um escrutínio cada vez maior nos últimos anos a veio à tona a questão de quem realmente a possui e controla. A Huawei se autodenomina “propriedade dos funcionários”, mas essa afirmação é questionável e a estrutura corporativa descrita em seu site é enganosa. Uma série de fatos pertinentes sobre a estrutura e propriedade da Huawei são de fato bem conhecidos e foram descritos muitas vezes na mídia chinesa, mas o mito da propriedade de funcionários da Huawei parece persistir fora da China. Estudos mais aprofundados com base em fontes disponíveis ao público, como relatórios da mídia, bancos de dados corporativos e processos judiciais, refuta claramente esse mito.

A empresa operacional da Huawei é 100% detida por uma holding, que por sua vez é detida a aproximadamente 1% pelo fundador da Huawei, Ren Zhengfei, e 99% por uma entidade chamada “comitê sindical” da holding. Pouco se sabe sobre os procedimentos de governança interna do comitê sindical: quem são os membros do comitê ou outros líderes sindicais, ou como são selecionados. O que tem sido chamado de “ações de funcionários” na “Huawei” são contratos que dao participação nos lucros.
Dada a natureza pública dos sindicatos na China, se a participação acionária do comitê sindical for genuína, e se o sindicato e seu comitê funcionarem como sindicatos geralmente funcionam na China, então a Huawei pode ser considerada efetivamente estatal. Independentemente de quem possui e controla a Huawei, todas evidencias disponíveis mostram que o controle não é dos funcionários
A Huawei é uma “empresa” (cooperativa) onde o sócio majoritário (o criador) tem 1% das ações e os outros 99% pertencem ao sindicato dos trabalhadores, que recebem dividendos. Além disso, devido à regulamentação da China, ela é impedida de despedir funcionários em massa e os trabalhadores da Huawei são muito bem pagos. Sempre que algum funcionário sai por conta própria ou é demitido (apenas no caso de fim de contrato temporário menor que 10 anos), ele recebe uma indenização de acordo com sua participação acionária (deduzida da participação do sindicato). Ninguém pode comprar ações da Huawei sem trabalhar nela.

A Huawei emprega 200 mil pessoas (funcionários com mais de 10 anos de empresa ou que não tenham termo fixo de menos de 10 anos são estáveis, análogo à estabilidade do servidor público efetivo brasileiro), enquanto a Apple emprega apenas 80 mil (nenhum estável, e boa parte temporário), mesmo tendo um ativo total de ~300 bilhões, e a Huawei ~100 bilhões. Que quem decide as questões importantes é a Comissão de Membros, 115 representantes escolhidos pelos próprios trabalhadores da empresa.
O mecanismo de participação democrática nas empresas chinesas é maior do que se imagina. A participação dos trabalhadores na escolha da administração é grande, se comparada com as estruturas top-down do ocidente, e tende a ser maior nas empresas que adotam o que se chama de ESOP (Employee Stock Ownership Plan, o que se poderia traduzir para Plano de Participação Acionária do Empregado, ou algo assim) e nas empresas com maior participação pública, na forma do Estado ou de associações filiadas ao Estado (aliás, a maior parte da participação estatal nas empresas chinesas não é direta, e sim através de associações dos trabalhadores.
As ESOPs, apesar de serem modelo na China desde o começo da abertura econômica, tem sido estimulada com grande sucesso pelo governo desde 2014. As ESOPs diminuem e caminham para extinguir os “problemas de agência” que é causado pelo conflito de interesses entre os sócios das estruturas tipicamente capitalistas/ocidentais, especialmente entre o majoritário e os minoritários. Isso pode significar maior eficiência da empresa, porque significa que os trabalhadores são os próprios donos (ou, na linguagem financeira: “shareholders”), o que gera menos conflito inter-empresarial.

referencias
https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=3372669
A Estrela Vermelha Brilha sobre a China
Este mini-curso de Hugo Albuquerque será transmitido via plataforma Zoom nos dias 6, 13, 20 e 27 de junho e…
REVOLUÇÕES: OUTRO MUNDO É POSSÍVEL
Curso gravado sobre o contexto histórico e as teorias das principais experiências revolucionárias na América Latina, Rússia, África e Ásia.…
O sindicato tem futuro?
Neste curso Marcio Pochmann e convidados debatem temas como a formatação do modelo de organização e representação dos interesses da…
O Pensamento Mao Tsé-Tung
A ideia do curso consiste em localizar a singularidade do pensamento Mao Tsé-Tung na tradição marxista através de seus principais…
A guerra econômica no conflito ucraniano
Aula híbrida (presencial e online) A Operação Z, que marca a maior escalada do conflito russo-ucraniano nestes oito anos, já…
República de Segurança Nacional: Militares e política no Brasil
Curso debate o projeto de poder dos militares no Brasil Iniciativa faz parte da Coleção Emergências, parceria da Fundação Rosa…
O Partido Fardado e a Política no Brasil
Fundamentos teóricos, história e propostas para um combate 10 horas de curso gravado! Assista a hora que for mais conveniente!
A Era Putin na Rússia
Este curso foi gravado em abril de 2022 com aplicativo Zoom. Conteúdo gravado e material didático. 12h de aula online…
Como estudar textos revolucionários? Ferramentas intelectuais e digitais
O curso foi gravado em fevereiro de 2022 via aplicativo Zoom. 8h de aula online
Método dialético
Curso online Gravado entre novembro e dezembro de 2021 através de aula ao vivo via Zoom Emissão de certificado de…
História da China
O objetivo do curso é capacitar os estudantes a procurar e selecionar materiais adequados para o estudo da História da…
Retornando a Maquiavel
Tomando como lição o que o próprio florentino aconselhou, “Retornando a Maquiavel” tem a proposta de readmitir o pensamento estratégico…
Novas Teorias Populistas
O objetivo do curso é apresentar as abordagens teóricas contemporâneas do fenômeno populista e a sua relação com as democracias…
Fanon e a Revolução Argelina
+ Bônus: cupom de 10% de desconto na compra do livro “Fanon e a Revolução Argelina” de Walter Lippold editado…
A Mística Revolucionária Latino-americana
Utilizando o método de círculos de reflexão o investigador e militante João Gabriel Almeida nos conduzirá pelos fundamentos da mística…
Guerra, a política por outros meios
Nesse curso, apresentamos os fundamentos teóricos necessários para aqueles que desejam iniciar seus estudos sobre a guerra e a história…
A Guerra Contra o Paraguai
As causas do conflito e a invasão paraguaia do Brasil (1864-65)Coordenação científica: dra. Ana Setti Reckziegel — PPGH UPFProfessores: Mário…
Economia Pós pandemia
Curso Gratuito das Jornadas Freireanas – Flipei 2021 Este curso foi gravado via live nos dias 5/04, 12/04, 19/04 e…
Feminismo negro e culinária
Curso Gratuito das Jornadas Freireanas – Flipei 2021 Este curso foi gravado via live nos dias 7/04, 14/04, 22/04 e…
O pensamento transfeminista
Curso Gratuito das Jornadas Freireanas – Flipei 2021 Este curso foi gravado via live nos dias 8/04, 15/04, 22/04, 29/04 …
12