Por que Maquiavel?

Por Pedro Marin*
A primeira coisa sobre a qual refleti quando começamos a fazer esse curso para a Caixa de Ferramentas foi “mas por que Maquiavel é tão importante?”. É difícil justificar isso quando a sua educação é informal e autodidata, porque sempre ficamos com o receio de que o valor que se dá a determinada coisa possa simplesmente ser algo “pessoal”, uma deficiência individual que foi suprida por um determinado autor que, ao fim, não é tão interessante para o resto das pessoas.
Quando tive contato com O Príncipe tinha 16 anos. Já tinha uma formação decente sobre as revoluções socialistas, e já estava avançando bem na leitura do marxismo. Mas O Príncipe tinha algo muito impressionante; o tipo de efeito que um livro como O Manifesto do Partido Comunista tem na gente quando se é jovem e lê pela primeira vez; o mundo se abrindo para além das aparências, a cabeça colocada naquele estado de alerta constante, os padrões se mostrando.
A importância de Maquiavel fui entendendo intuitivamente, ao longo dos anos, à medida que, para enfrentar as questões novas no trabalho diário da Revista Opera, invariavelmente voltava no florentino e ali encontrava respostas: n’O Príncipe, nos Discursos, no Arte da Guerra.
Mas foi só fazendo esse curso que consegui formular uma resposta menos intuitiva e mais explícita para responder, afinal, o porquê da insistência em sua importância: Maquiavel é o autor por excelência (ao menos no mundo ocidental) da lógica da estratégia, da rejeição da moral como fio condutor da política e da afirmação dela como um jogo de aparências manejado para, precisamente, esconder a lógica da estratégia. “Lógica da estratégia” não é só uma frase em vão, um termo qualquer; é uma visão num degrau acima dos moralistas e dos conservadores, e um abaixo dos marxistas. É o degrau que a moral tenta esconder, mas também o degrau onde a lógica econômica pura não pode alcançar; um degrau onde a genialidade por vezes é o “absurdo”.
O fundamental não é só conservar a própria força e independência, mas obrigar o inimigo a uma situação em que não pode fazê-lo ou, no mínimo, torná-la mais custosa a ele. Por vezes, para isso será necessário tomar os caminhos mais fabulosos, os caminhos mais difíceis, mas os caminhos inacessíveis ao outro. Na lógica da estratégia, os fatores objetivos são determinantes de muitas coisas, é claro, mas não da vitória; aqui os elementos subjetivos podem ser bem aproveitados.
Vejam por exemplo a longa campanha de Mao Tsé-Tung, triunfante de fato só em 1949, mas cuja estratégia vitoriosa já tinha sido descrita onze anos antes, em 1938: Mao conhecia suas próprias debilidades e a superioridade do inimigo, e sabia que isso o obrigava a manter uma situação em que pudesse trocar, sempre que necessário, terreno e capacidade bélica por tempo e apoio.
O pragmático aliancista por vezes se diz realista, mas a lógica maquiaveliana o destrói; vejam com que simplicidade o florentino desfaz uma aliança, mostrando como o desenrolar de uma união de divergentes invariavelmente será a supressão de um pelo outro. Como o moralista se vê encerrado no labirinto que ele próprio constrói quando é confrontado de fato com a utilidade de sua construção; como o conservador é posto a nu quando forçado a ver que a conservação com a qual ele opõe a violência da revolução é tão ou mais violenta, baixa, suja.
Maquiavel não explica tudo, sem dúvidas, mas é incontornável; ninguém pôde derrotá-lo sob sua própria lógica, sempre tiveram de apelar, e boa parte dos que o “superaram” o fizeram sem inventar muito – coisa que ele sempre recomendou que fosse feita.No começo de setembro o curso será lançado, e preparamos também uma semana de debates para ajudar a divulgar.
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