O Afeganistão e o pensamento estratégico chinês

Devido ao inevitável avanço do Talibã no Afeganistão após a saída das tropas estadunidense surgiram teorias de viés conspiratório de um suposto apoio chinês ao Talibã.
Por André Takahashi*
Devido ao inevitável avanço do Talibã no Afeganistão após a saída das tropas estadunidense surgiram teorias de viés conspiratório de um suposto apoio chinês ao Talibã. Tais boatos ocorrem porque o governo chinês recebeu uma delegação do grupo islâmico para discutir o Afeganistão pós-invasão.
Não faltam oportunistas sugerindo que o governo chinês simpatiza com as práticas medievais do grupo. Para ter uma pista real da relação entre Talibã e China é preciso entender duas coisas: o apoio popular que o Talibã desfruta no Afeganistão e o pensamento estratégico chinês. Ao contrário do que nos noticiam o Talibã desfruta de amplo apoio popular, principalmente no interior.
Infelizmente, boa parte do senso comum concorda com as regras de conduta impostas pelo grupo. O Talibã não retomaria o país com tanta facilidade sem essa identificação de parte significativa do povo. Além de fontes de notícia tenho esse panorama do senso comum afegão devido ao contato que mantive por alguns anos com a campanha contra o uso de drones naquele país. Seus membros, liberais e partidários da democracia ocidental, me falavam de como era difícil qualquer coisa no Afeganistão devido aos valores arcaicos hegemônicos, principalmente no interior.
Mesmo eles eram bem medievais em alguns costumes, mas isso é história pra outro texto. Do outro lado os chineses têm plena consciência disso. E sua política externa atual prima pela não interferência armada nos assuntos internos de outros países. Mas o central aqui é o pensamento estratégico chinês.
Os chineses têm uma tradição milenar de focar mais no processo que causa um fenômeno do que na manifestação do fenômeno em si. Obviamente, o Partido Comunista da China não apoia as regras medievais impostas pelo grupo, mas sabem que não será da noite para o dia que isso vai mudar no Afeganistão. Ainda mais através de uma intervenção militar estrangeira num país acostumado a expulsar invasores desde a época de Alexandre da Macedônia.
Ao aceitar negociar com o Talibã como força política legítima os chineses poderão colocar toda sua capacidade de investimento no desenvolvimento socioeconômico do país através do projeto da nova rota da seda. Como bons planejadores de longuíssimo prazo os chineses sabem que o desenvolvimento econômico e social do país elevará o grau de cultura e urbanização do mesmo. Eliminando assim, a longo prazo, as condições materiais que permitem que os valores medievais do grupo sejam tão enraizados no senso comum.
Isso significa que os chineses estão se empenhando em mudar essas práticas do Talibã? Não! A curto prazo a prioridade da China é estabilizar o país, integra-lo à nova rota da seda e impedir que ele se torne uma plataforma do terrorismo islâmico contra a China. Mas, ao mesmo tempo, os chineses estão preparando o terreno pra modernizar a economia afegã, diminuir a miséria e a pobreza e criar as condições para que no futuro os afegãos tenham melhores condições de, por si próprios, se organizarem e dar o direcionamento que acharem melhor pra sua vida.
Enquanto o Afeganistão estiver atolado em guerra e miséria ideologias medievais como a do Talibã e o terrorismo islâmico sempre terão terreno fértil para crescer e prosperar. Com uma economia moderna, mais direitos sociais e mais urbanizado essas condições ficam menos favoráveis. O resto dependerá da capacidade de organização autônoma e pressão do próprio povo trabalhador afegão.
*André Takahashi é paulista, nipo-brasileiro, sociólogo e socialista. Há quase 30 anos se dedica a movimentos e organizações relacionados à pautas sociais, ambientais e antifascistas. Desde 2019 trabalha na construção de espaços de formação política presenciais e online. É coordenador da plataforma de formação política Caixa de Ferramentas.
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