Evergrande e a prosperidade comum chinesa

Crise na empresa Evergrande, gigante do setor imobiliário de Xangai, tem causado temor nos mercados pelo mundo
Por Marcio Pochmann* publicado em Carta Maior
O feriado prolongado imposto ao funcionamento dos mercados de ações na China foi percebido em distintas partes do mundo como sinal de uma profunda crise no setor imobiliária daquele país. Rapidamente emergiram lembranças do colapso na bolha dos preços inflados das ações do setor imobiliário tanto no Japão (1991) quanto nos Estados Unidos (2008).

De fato, a situação da grande empresa privada Evergrande é grave, sendo a segunda incorporadora imobiliária da China, com passivos de 305 bilhões de dólares, o que equivale a cerca da metade do registrado pelo Banco Lehman Brothers quando quebrou na crise de 2008. Por conta disso, analistas e mídia ocidental passaram a imediatamente emitir posições similares aos efeitos contágio no conjunto da economia capitalista e às medidas adotadas por governos ocidentais.
Grave equívoco de consideração e análise, em geral alimentador dos tradicionais ambientes próprios da especulação e ganhos de curto prazo próprio das economias de mercado capitalista. Mas para uma economia de mercado socialista, cujo poder político conduzido pelo Partido Comunista chinês, a problemática da inadimplência em hipotecas residenciais e em empréstimos para desenvolvedores tem estado sob controle regulatório à disposição de Pequim para desarmar esses problemas.
Para, além disso, o recente plano lançado de prosperidade comum busca recuperar o requisito essencial do socialismo enquanto fundamento do processo de modernização no estilo chinês. Concomitante com a grande mudança socioeconômica produzida nas últimas quatro décadas, a formação de uma burguesia encadeada por forças de mercado, especialmente de bilionários e proprietários de grandes empresas privadas, passou a aparecer como forma alternativa de poder social e político.
Os sinais de usurpação do poder de formação dos preços nos mercados (educação, saúde, aluguel e outros), da evasão fiscal, da corrupção e especulação creditícia, imobiliária e outros, levaram o governo chinês a ampliar a regulação das diferentes formas de renda e riqueza excessivamente altas com o objetivo de garantir a prosperidade comum a todos. Os novos movimentos regulatórios não parecem ter sidos formulados para prejudicar os negócios, tendo o status do setor privado permanecido praticamente o mesmo.
Apesar disso, a expectativa governamental de que aqueles que conseguiram alcançar a riqueza mais rapidamente assumiriam o compromisso de contribuir para que o conjunto da sociedade e das regiões também pudessem alcançar gradualmente a prosperidade comum. Imediatamente ao lançamento do plano prosperidade comum, que coincidiu com a prisão do principal secretário oficial do Partido Comunista de Hangzhou (capital de Zhejiang), Zhou Jiangyong, por funcionários anticorrupção, as grandes empresas privadas do segmento de tecnologia, por exemplo, anunciaram elevadas doações para diferentes projetos de desenvolvimento e assistência para segmentos sociais e de localidades de baixa renda.
Nesse mesmo sentido, o setor imobiliário que foi responsável pelo impulsionamento da modernização urbana da China se encontra em fase de reorganização diante da transição demográfica e da queda na taxa de casamentos. Dentro da perspectiva de tornar o atual modelo de economia de mercado socialista reformulado para funcionar melhor, coube a mudança de foco da atuação governamental para elevar a qualidade e o retorno do crescimento econômico, em vez do inflacionamento tradicional do PIB.

No caso da Evergrande, a preocupação governamental de injetar recursos para que suas atividades principais sejam mantidas com o intuito de permitir o atendimento dos compromissos assumidos na construção de 1,4 milhão de novas habitações. Mas isso pode impor aos maiores credores institucionais a necessidade de terem de aceitar a reestruturação da própria empresa, inclusive os detentores estrangeiros de títulos denominados em dólar.
Dessa forma, o governo chinês mantém a meta de mudar a sociedade, tornando a propriedade mais acessível a todos. Mas para isso, a importância do reequacionamento político no centro do poder em uma economia que passou a se apoiar no mercado imobiliário para acelerar o crescimento nacional.
*Marcio Pochmann é Professor e pesquisador do Cesit/Unicamp e da Ufabc
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