Bitcoin e o levante no Cazaquistão

Por Eden Cardim
A desestabilização do Cazaquistão, terceiro minerador de Bitcoin do mundo, mostra que ao contrário do que afirmam os anarcocapitalistas, as criptomoedas estão sujeitas sim às conjunturas e políticas de estado. Já houve uma sinalização disso quando a China adotou uma postura forte de regulação às criptomoedas no segundo semestre de 2021, derrubando a cotação em cerca de 20%.
O primeiro equivoco tratando-se desse tema é que costuma-se confundir bitcoin com a totalidade das criptomoedas de forma mais ampla.
Apesar do bitcoin estar na liderança em termos de volume transacional e valor de mercado, não totaliza nem 50% do que há de criptomoedas em circulação hoje e apenas um terço do PIB brasileiro. Mesmo assim, tende a ser utilizado como índice genérico do mercado de criptoativos, já que as demais criptomoedas tendem a flutuar no seu entorno. E qualquer país que consiga afetar o bitcoin, afetará todos os criptoativos de maneira mais ampla.Especula-se que a queda de quase 10% essa semana venha do pânico pela desativação de cerca de 6% do hashpower contribuído pelo Cazaquistão ao parque de mineração global, em decorrência da repressão do governo Cazaque aos protestos. O vínculo do país com a Rússia devido à antiga incorporação na URSS também o torna grande fornecedor de criptoativos. Para Moscou, é muito melhor terceirizar a questão energética da mineração a um país vizinho do que arriscar uma crise interna.
Isso leva ao segundo equívoco. A remoção de hashpower da rede do bitcoin não resulta necessariamente numa desestabilização ou redução de capacidade transacional da rede. Significa apenas que as recompensas pelo processamento que o Cazaquistão recebia serão redistribuídas pros demais mineradores do mundo. Porém esse descompasso já foi o suficiente pra causar pânico nos mercados, que não agem racionalmente.
Por fim, é necessário esclarecer que o bitcoin já é considerado jurássico frente às demais tecnologias de criptoativos em uso no mundo e se tornará cada vez menos relevante, assim como aconteceu com o ouro no passado. Eventualmente será reduzido a mero artefato de lastro. As tecnologias que estão suplantando o bitcoin são mais eficientes do que o processamento utilizado em tecnologias bancárias tradicionais e em breve o oligopólio bancário não terá o argumento ambiental pra conter o avanço dos criptoativos no mundo.
A China combateu o bitcoin não por ser avessa às criptomoedas mas porque deseja implantar seu próprio criptoativo soberano. Inclusive, o Yuan Digital já circula na China em pequena escala. Já saiu da fase experimental e está sendo progressivamente adotado de forma controlada. Essa decisão estratégica tem sinergia gigantesca com o avanço à galope das tecnologias chinesas de energia sustentável. Vai desde fusão nuclear a captação espacial de energia solar. Pra além disso tudo, estão fortemente industrializados e produzem, seguramente, dois terços do equipamento utilizado em mineração de criptoativos no mundo.
Os EUA, até agora, não têm resposta à altura e dificilmente conseguirão ter a agilidade necessária pra costurar uma solução indireta, à moda neoliberal. A Venezuela já negocia petróleo através de criptoativos para não ter que se sujeitar a Washington e mineração de bitcoin é política de estado. El Salvador, que é o caso mais conhecido, também está apelando ao bitcoin com o pretexto de fugir da dolarização e aproveitar seu potencial geotérmico. O Irã também possui políticas de incentivo energético a mineradores pra fugir da dolarização, evitando a moeda de seu principal adversário político. Agora, o Cazaquistão é mais um país em que os desenvolvimentos geopolíticos possuem ao menos uma faceta relacionada às criptomoedas.
Isso tudo indica que, no rumo atual, os EUA deverão perder a hegemonia do dólar num futuro próximo. O país que possuir a capacidade técnica e política de conduzir o mundo pruma adoção racional de criptoativos será o próximo a sentar na cadeira de piloto da economia mundial. Por enquanto, esse país é a China. E muito provavelmente a movimentação da OTAN na Ucrânia e agora a desestabilização do Cazaquistão, que é estratégico na nova rota da seda e faz fronteira com Xinjiang parece ser uma tentativa de desacelerar esse avanço chinês.
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