Biden, o irlandês

Por Hugo Albuquerque*
Em primeiro lugar, Joe Biden vence um eleição que ele deveria ter levado com muito mais facilidade, movido sobretudo pelos movimentos sociais do que por sua própria campanha, o que antevê uma contradição em breve. Biden é o segundo católico a vencer uma eleição presidencial americana. O outro, John Kennedy, deixou muitas marcas no seu breve governo.
Em um país cuja identidade nacional foi forjada pelo protestantismo radical, um católico chegar à presidência é sempre um fato notório. Irlandeses como Biden ou Kennedy representam uma massa de “brancos de segunda categoria”, cuja maioria dos antepassados veio para ser oprimida como contingente operário industrial — ao contrário da maioria dos povos brancos que puderam aportar na América até meados do século 19.
Os irlandeses, um povo razoavelmente conservador, se tornam progressistas nos EUA em virtude da dura realidade da luta de classes. O Kennedismo, como uma espécie de progressismo liberal veio a sintetizar isso no século 20. Ironicamente, tanto Kennedy quanto Biden chegaram ao poder em aliança com os negros, em momentos chave da contestação da questão racial essencial no plano interno: a exploração e luta por liberdade dos negros.As semelhanças, em certa medida, param por aí.
Biden sempre foi um centrista, que moldou suas posições conforme as conveniências e a conjuntura, caminhando da direita para o centro sem nunca mover as peças, mas sempre de acordo com as mudanças. Biden é um dos homens-chave na construção do grande plano global americano pós Vietnã; assim como presidentes e parlamentares de ambos os partidos, ele reposiciona com êxito os EUA e os faz ser a hiperpotência dos anos 1990, embora em declínio hoje.
O grande projeto da hiperpotência americana viu seu declínio, mal tinha começado. Trump é uma expressão interna de insatisfação a esse próprio projeto. Biden vem colocar os EUA nos trilhos saídos em 2017, mas isso não quer dizer que as coisas vinham bem ali.Para o Brasil e para a América Latina, Biden pode representar a vota das forças armadas locais para a caserna, embora ainda sob comando estratégico e ideológico dos EUA, assim como um afrouxamento da pressão sobre os países da região, embora não sobre a Venezuela.
Para o mundo, Biden deverá se reaproximar efusivamente da Europa, pressionar e cercar mais ainda a Rússia, diminuir o preço das commodities (a começar pelos hidrocarbonetos) e arrefecer um pouco a pressão contra a China. As relações com a China, contudo, nunca mais serão as mesmas. Se Trump conseguiu emplacar duas coisas, uma delas é a permanente mobilização nativista de uma parcela dos brancos e, sobretudo, uma narrativa antichinesa que tem sua versão “bipartidária”.
No plano interno, Biden terá de se equilibrar entre uma crescente tensão. Nada indica que a fricção da luta de classes, marcada fortemente por elementos raciais, irá diminuir, nem que a alt right simplesmente se torne irrelevante.
P.S.: a questão negra deriva, obviamente, dos negros terem sido o único povo escravizado na América. É uma questão de classe que se expressa, politicamente, uma questão racial (mas é a segunda, porque antes é de classe). Á principal questão racial *interna*.
P.S. 2: a maior questão racial *externa* é o conflito dos EUA contra os povos amarelos. Japoneses, coreanos e vietnamitas conheceram a violência americana como ninguém. Essa é chave simbólica que permite a desumanização dos chineses e fez colar o argumento trumpista.
P.S.3: Ainda que para Biden interesse conter a China, no entanto, ele é melhor para Pequim, porque o capital do Vale do Silício não quer perder mais dinheiro. Isso talvez mude as coisas.
P.S. 4: Bolsonaro apostou tudo em Trump e perdeu. Hoje, ele é vulnerável como nunca. Este momento, portanto, não pode ser desperdiçado.
Hugo Albuquerque é publisher da Jacobin Brasil, editor da Autonomia Literária, advogado e direitor do Instituto Humanidade, Direitos e Democracia — IHUDD.
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