A revolução silenciosa: a paz irrompe em todo o Oriente Médio

A confusão no campo do imperialismo anglo-saxão, forjada por seu fracasso total na Ucrânia, está sendo agravada pela diplomacia pacificadora da Rússia e da China no Oriente Médio.

Foto: Agência Árabe Síria de Notícias (SANA)

Do CPGB-ML

Enquanto o Tio Sam e companhia estão atolados na tentativa de destruir a Rússia através da Ucrânia, em outros lugares os povos estão escapando de sua bota.

Depois de meio século de ‘iniciativas de paz’, ‘roteiros’, ‘acordos do século’ e ‘diplomacia do vai e vêm’ fracassados, a paz parece estar surgindo em todo o Oriente Médio – sem nenhuma ajuda do Tio Sam. Parece que a maior contribuição para a paz que pode ser feita pelos Estados Unidos é sua ausência de cena.

Não que Washington esteja de braços cruzados o tempo todo. Mas tentar travar uma guerra por procuração contra a Rússia acaba sendo mais complicado e perigoso do que o presidente dos EUA, Joe Biden, esperava, especialmente quando seus relutantes aliados europeus estão lutando pela saída, a corajosa guerra de resistência da Rússia permanece firme e o presidente Vladimir Putin , longe de enfrentar a revolta popular e a mudança de regime, está em alta nas pesquisas.

China e Rússia lideram uma revolução silenciosa no Oriente Médio

Mas o tempo não espera por ninguém. Enquanto o Ocidente coletivo luta até a última gota de sangue ucraniano, esvaziando seus arsenais para alimentar uma tão alardeada “ofensiva de primavera” que parece cada vez mais duvidosa, China e Rússia têm negociado diligentemente uma série de incursões diplomáticas bilaterais que, em conjunto, representam uma revolução silenciosa no Oriente Médio.

O feito quase milagroso da China de reconciliar os sauditas com os iranianos foi seguido por conversas russas com a Arábia Saudita, Turquia e Síria, levantando a perspectiva de um fim para a guerra na Síria e a retomada do seu lugar de direito na Liga Árabe.

A Al Jazeera relata: “O presidente sírio, Bashar al-Assad, reuniu-se com o ministro das relações exteriores saudita, príncipe Faisal bin Farhan al-Saud, no passo mais significativo até agora para acabar com o isolamento regional de uma década da Síria. O príncipe Faisal desembarcou em Damasco na terça-feira, informou a mídia estatal síria, uma semana depois que seu colega sírio visitou a Arábia Saudita. A visita é a primeira de um oficial saudita à capital da Síria desde o início da guerra civil do país em 2011.”

O relatório observou: “diplomatas de nove países árabes se reuniram na cidade saudita de Jeddah para discutir o fim do longo período da Síria no deserto diplomático e seu possível retorno à Liga Árabe de 22 membros depois que Damasco foi suspenso em 2011”. A Al Jazeera aponta que “as capitais regionais têm gradualmente se aproximado de al-Assad, já que ele recuperou a maior parte do território perdido para os rivais, com o apoio crucial da Rússia e do Irã”. (Ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita se encontra com Assad da Síria em Damasco, 18 de abril de 2023)

A diplomacia russa também se concentrou em forjar uma reaproximação entre a Síria e a Turquia. Embora o presidente Assad se recuse a se encontrar diretamente com o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, até que as forças apoiadas pela Turquia sejam retiradas da Síria, “autoridades turcas e russas dizem que estão sendo feitos preparativos para uma reunião entre os vice-ministros das Relações Exteriores da Turquia, Síria e Irã antes das conversações planejadas entre ministros das relações exteriores.

“Assad reconheceu o papel desempenhado pela Rússia em encorajar uma reaproximação entre Erdogan e ele. ‘Confiamos no lado russo, que desempenhou um papel de mediador para facilitar as comunicações, mas dentro da base da política russa de respeito à soberania dos estados e à saída de forças estrangeiras ilegais do território sírio’, disse Assad”, acrescentando que a presença de tropas russas na Síria era legítima, pois seu governo havia solicitado o apoio de Moscou. (Assad diz que não se encontrará com Erdogan até que a Turquia termine sua ‘ocupação’ por Suleiman al-Khalidi, Reuters, 16 de março de 2023)

Ascensão inexorável dos Brics

Correndo em paralelo com essas mutações dos padrões ​​de fidelidade no Oriente Médio, está a crescente atração gravitacional exercida pela aliança Brics, compreendendo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Irã e Argentina solicitaram recentemente a adesão, e Arábia Saudita, Turquia e Egito estão a caminho de fazer o mesmo.

O presidente russo anunciou recentemente planos para os Brics criarem uma nova moeda de reserva global ‘baseada em cesta’, compreendendo o real brasileiro, o rublo russo, a rupia indiana, o renminbi chinês e o rand sul-africano, e representando uma alternativa ao direito especial de saque (DES) do Fundo Monetário Internacional – um grande passo para a desdolarização da economia mundial e o fim do sistema global dominado pelos EUA de chantagem econômica imperialista.

Isso poderia ter dado algum conforto ao presidente Biden se sua inação sobre os desenvolvimentos no Oriente Médio tivesse sido compensada por algumas notícias encorajadoras na frente de guerra na Ucrânia. No entanto, isso não aconteceu.

“A contra-ofensiva sempre iminente da Ucrânia tentará retomar o território tomado pela Rússia, provavelmente no leste e no sul, embora por razões operacionais nenhum alto funcionário de Kiev tenha detalhes específicos.

“Publicamente, a equipe do presidente Joe Biden ofereceu apoio inabalável à Ucrânia, prometendo municiá-la com armas e ajuda econômica pelo ‘tempo que for necessário’. Mas, se a próxima temporada de combates render ganhos limitados, os funcionários do governo expressaram em particular que temem ser confrontados com um monstro de duas cabeças atacando-o tanto do lado​​ que pede mais apoio à Kiev​​ quanto do lado do espectro que acredita que mais apoio não fará diferença.

“Um lado dirá que os avanços da Ucrânia teriam funcionado se o governo tivesse dado a Kiev tudo o que pediu, ou seja, mísseis de longo alcance, caças a jato e mais defesas anti-aéreas. O outro lado, temem os funcionários do governo, alegará que a deficiência da Ucrânia prova que ela não pode forçar a Rússia a sair completamente de seu território.

“Isso nem leva em conta a reação dos aliados dos Estados Unidos, principalmente na Europa, que podem ver uma negociação de paz entre a Ucrânia e a Rússia como uma opção mais atraente se Kiev não conseguir provar que a vitória está chegando.” (A equipe de Biden teme as consequências de uma contra-ofensiva ucraniana fracassada de Jonathan Lemire e Alexander Ward, Politico, 24 de abril de 2023)

Espaço para o avanço do mundo multipolar

Enquanto isso, a humanidade progressista se alegra ao ver que o fim das guerras na Síria, Iraque e Iêmen está finalmente à vista, enquanto as posições dos EUA e de seu representante restante na região, Israel, parecem cada vez mais instáveis. Nada poderia desmentir com mais eloquência os contos de fadas do “imperialismo” russo e chinês do que esses resultados de suas ações na região centradas no bem estar das pessoas.

Nos primeiros dias da revolução bolivariana, o revolucionário venezuelano Hugo Chávez deixou registrado sua gratidão à resistência iraquiana por colocar fogo sob os pés do imperialismo dos EUA, e dar a seu povo um espaço para avançar enquanto o Tio Sam estava atolado em outro lugar. Podemos ter certeza de que hoje ele estaria torcendo pela Rússia em sua guerra antifascista, e agradecendo aos envolvidos por fornecer um espaço de respiração semelhante para forças progressistas em outras partes do mundo, entre eles aqueles que aproveitaram a oportunidade para promover a causa da libertação anti-imperialista no Oriente Médio.

No final das contas, nossas lutas contra o imperialismo convergem numa única e mesma luta.

Vitória à resistência!

Artigos Relacionados

O mito da unidade da resistência ucraniana

Durante a cobertura do conflito que ocorre no presente momento no leste europeu, somos levados a acreditar que existe apenas um pensamento na Ucrânia: a defesa de seu governo. Contudo, quando observada de forma crítica, tal narrativa não parece se sustentar. Exatamente nesse sentido, A coisa pública brasileira, no intuito de esclarecer sobre o que ocorre na Ucrânia neste presente momento, publica o presente artigo, do referido autor para que brasileiros possam ter informações relevantes que nos vem sendo negadas, devido ao intenso bloqueio midiático.

A nova política externa da Rússia, a Doutrina Putin

Parece que a Rússia entrou em uma nova era de sua política externa – uma ‘destruição construtiva’, digamos, do modelo anterior de relações com o Ocidente. Partes dessa nova maneira de pensar foram vistas nos últimos 15 anos – começando com o famoso discurso de Vladimir Putin em Munique em 2007 – mas muito está se tornando claro apenas agora. Ao mesmo tempo, os esforços medíocres de integração ao sistema ocidental, mantendo uma atitude obstinadamente defensiva, continuam sendo a tendência geral na política e na retórica da Rússia.

A História do EZLN através de suas declarações (Parte I)

“As seis declarações serão objeto de uma análise comparativa e abrangente. Os seis fazem parte de um todo que não pode ser segmentado, exceto para facilitar a organização de seu estudo, não como objetos de estudo em si e separadamente. Esses documentos contam a história de um movimento político caracterizado por uma plasticidade ideológica e factual altamente sincrética.