7 chaves para pensar a vitória do MAS-IPSP nas eleições bolivianas

Por André Takahashi

1) O resultado das pesquisas de boca de urna das eleições de outubro de 2020 mostra que não houve fraude por parte de Evo nas eleições de 2019. A maioria do povo boliviano é realmente comprometida com o projeto socialista comunitário do Movimento ao Socialismo – Instrumento Político pela Soberania dos Povos (MAS-IPSP) e com a liderança de Evo Morales.

2) O MAS-IPSP sempre esteve correto em procurar todos os meios legais para superar a derrota no referendo de 2016 sobre reeleição, que por pequena margem tentou impedir Evo de disputar mais um mandato.

3) A campanha desse referendo, vencido pela direita, foi um dos primeiros e bem sucedidos casos de manipulação eleitoral através de fake news. Ao contrário da esquerda brasileira que aceitou a fraude eleitoral que elegeu Bolsonaro o MAS-IPSP nunca aceitou o resultado desse referendo, alegando manipulação por meios escusos com apoio de forças estrangeiras.

4) Um ano após o golpe de 2019, em meio à Pandemia de Covid-19 e após diversos escanda-los de corrupção, a direita e a esquerda pró-golpe estão completamente desmoralizadas e sem condições de apresentar um projeto para a Bolívia.

5) O resultado oficial da contagem de votos só será anunciado na quarta-feira dia 21 de outubro. Apesar da própria presidente golpista Jeanine Anez ter reconhecido a vitória do MAS-IPSP fica a dúvida: quem se beneficiou do golpe de 2019 está disposto a entregar o poder um ano depois só porque perdeu as eleições?

6) Caso o MAS-IPSP consiga tomar posse terá como tarefa imediata uma depuração do extremismo no campo político boliviano, a começar com a extinção das milícias fascistas ao estilo da Resistência Juvenil Chochalla e Union Juvenil Crucenista. Será um desafio construir a correlação de forças necessária para governabilidade; e permitir milícias de extrema direita atuando livremente impossibilitará qualquer tentativa. Em paralelo, será necessário ampliar e fortalecer as defesas comunitárias já existentes e comprometidas com o socialismo comunitário (juntas vecinales, guarda sindical, guardas comunitárias indígenas), e institucionaliza-las como parte central da estratégia de defesa do estado plurinacional.

7) Com o resultado avassalador desse domingo Evo Morales se consolida como o grande líder do povo boliviano e, caso não seja traído, será quem de fato dará as cartas no novo governo. O povo não votou em Lucho por seu carisma, mas sim porque Evo e o MAS-IPSP orientaram. Vivemos um momento populista no mundo inteiro, e saber agir nesse momento é o que tem possibilitado as sucessivas vitórias eleitorais do MAS-IPSP.

André Takahashi é bacharel em Ciências Sociais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). É idealizador e coordenador da Caixa de Ferramentas.

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